sábado, outubro 18, 2003

Isto de ser Português

Turismo e Cultura em Portugal

Isto de ser Português...


Quando Portugal se prepara para receber o Euro 2004, começamos a ver na televisão "avisos, pedidos, recomendações", e não sei mais que lhe chamar, para termos atenção com o nosso turismo e com os nossos turistas.

No passado dia 27 de Setembro comemorou-se em todo o mundo o Dia do Turismo, tendo este ano como mote: O Turismo - força motriz da luta contra a pobreza, da criação de emprego e da harmonia social.

Principalmente em Portugal, que se prepara para ser a "capital" do turismo em 2004.

Acontece que, no passado dia 1 de Outubro de 03, estando entre nós uma turista alemã, revolvemos ir dar uma volta por Lisboa e Sintra, a tentar mostrar o que de mais belo achámos que devíamos apresentar, começando pela cultura: fomos ao Museu do Teatro e do Traje.

Aí começou a tristeza. Os edifícios são lindos, mas o recheio deixa muito a desejar. No teatro, encontrámos uma pobreza que só visto, deixando de lado uma parte importante da nossa Cultura, a Revista à Portuguesa, que deveria ter uma secção própria; em vez disso está tudo ao molho e fé em Deus.

As legendas das peças ali expostas foram cortadas à tesoura, numa mistura de Cinema, Fado e Teatro, o que, para nós que somos Portugueses, já é estranho. Imaginem para os estrangeiros, já que grande parte das legendas está só em português

A iluminação mais parece a de um funeral.

Passemos agora ao Museu Nacional do Traje. Só me ocorre dizer duas palavras: "uma vergonha". Onde estão a nossa História e a nossa Cultura? Tivemos quatro Dinastias Monárquicas, que começaram em 1143, com D. Afonso Henriques, e terminaram em 1910, com D. Manuel II, 800 anos de história e de trajes que quase não são referidos. Em tempos, e devido aos Descobrimentos, fomos dos Países mais ricos do Mundo, e nessa altura tivemos trajes lindos, mas onde estão eles?

Temos ainda uma história popular maravilhosa com trajes muito característicos, alguns dos quais recordo, como as Sete saias da Nazaré, o Capote Alentejano, o traje do Ribatejo, já para não falarmos do Traje Académico, principalmente o de Coimbra, que é mais antigo de Portugal. Não encontrei nada...

Vi, isso sim, uma fotos velhas por serem mal tratadas, umas vitrines com objectos vagos e mal preservados, que mais pareciam saídos da lixeira municipal, principalmente os dos anos 50, 60 e 70.

Deste dois museus, a única coisa boa é o Jardim.

No dia seguinte, pensámos levá-la a "um jardim do paraíso terreal", ou seja, a Serra de Sintra. Região turística por excelência, Sintra é um dos locais mais aprazíveis e privilegiados existentes em Portugal. Da vasta Serra verdejante e rochosa, numa situação admirável de pitoresco e amplos panoramas, até ao litoral de imponente beleza marinha, Sintra é a "nobre villa cercada de muytas quintas, amenos bosques com muytas fontes de excelente água", a que se referem diversos autores antigos.

Como gostam de anunciar as agências turísticas e a Câmara Municipal, mas a realidade é outra. Não existem, nem Sintra, nem na Serra, um bom parque de estacionamento, nem transportes públicos em condições.

Quisemos visitar o Palácio da Pena, para o que temos de pagar uma pequena fortuna. Como faltava, contudo, só uma hora e meia para o encerramento, que é às 18h00, já não nos venderam o bilhete. Os Jardins, esses, não precisavam de ser pagos para serem visitados.

Resolvemos então visitar o Castelo dos Mouros, uma vez que tínhamos encontrado um lugar para estacionar o carro, mas cheio de buracos, em terra batida, com capacidade para apenas 20 automóveis.

Quando chegámos à bilheteira para comprar um bilhete ao preço de ouro em pó, principalmente para jovens estudantes que nem descontos têm, fomos recebidos por uma jovem que estava mais preocupada em falar ao telefone do que em atender-nos, uma vez que nem bem boas-tardes deu...

Lá entrámos, acompanhados pela maravilhosa vista e o ar puro que nos invade os pulmões como um remédio contra o stress do dia-a-dia.

Até chegarmos ao Castelo encontrámos uma floresta virgem e abandonada, no meio a casa com um telhado, para não dizer mais, no mínimo futurista, uns caminhos pelo menos do tempo do Estado Novo, umas vedações de madeira partidas e há muito tempo esquecidas, que não proporcionam qualquer tipo de segurança. Até uns poços onde se guardavam alimentos estavam com a protecção destruída. Um monumento como uma igreja praticamente desfeita evidenciava que, com as próximas chuvas, poderá perder a porta principal.

Finalmente, lá chegámos ao Castelo. Mesmo aí, à porta, em frente ao segurança, uma ninhada de gatos recém-nascidos abandonados, o que nos fez perguntar onde andam as protectoras dos animais, mas isso já é outro assunto...

Bem em volta, as muralhas do castelo, construídas originalmente no século VIII, acompanham os contornos da serra, em contorções praticamente inacreditáveis. A fortificação muçulmana perdeu a sua importância estratégica quando foi conquistada por Dom Afonso Henriques, juntamente com Lisboa, em 1147, e das suas torres e caminhos de ronda avista se um panorama ímpar. Aí encontrámos um mato serrado, descuidado e um verdadeiro rastilho de pólvora para um incêndio; dentro do Castelo, o abandono ainda é maior, o lixo, o mato, o descuido, faz-me perguntar para onde vai o dinheiro que paguei para aqui entrar. Só mesmo pela paisagem linda e maravilhosa.

Depois disto tudo, ficou em mim a tristeza e a preocupação de ser Português, uma vez que tenho de pagar os meus impostos, tenho de pagar para ver o que é património nacional, com o que até concordo se as coisas estiverem bem tratadas e cuidadas, o que não é o caso.

Gostava de saber se é assim que Portugal, para o ano, quer receber os milhares de turistas que estão planeados!!!

Henrique Tigo