quinta-feira, novembro 18, 2021

As DOCE



Finalmente acabei de ver a serie de ficção da RTP à volta das Doce.
Sou um confesso fã das Doce, cresci a ouvir as Doce e a vibrar com as suas músicas, e sinceramente, achei que a serie (de ficção inspirada em factos reais) não faz jus ao verdadeiro movimento cultural que foram as Doce em Portugal, arrisco mesmo a dizer na Europa.
Portugal vinha de uma ditadura cinzenta, machista, retrograda e bafurenta e de repente apareceram as Doce, a primeira girls band. Sim, só depois, muito depois vieram as Spice Girls, etc, etc. como se fosse uma coisa muito moderna. Já nós nos anos 80 tínhamos tido as Doce Com as roupas ousadas, do estilista Zé Carlos, mulheres lindas, livres com ideias próprias que souberam dizer Não, que souberam dizer Basta, a cantar músicas que falavam e que lutavam contra todas as formas de opressão da mulher e de discriminação sexista.
Sofreram na pele o atraso de Portugal, e percorreram esse Portugal em estradas, ou melhor, buracos com um bocadinho de estrada, para levar alegria às terras mais escondidas de Portugal, algumas onde nunca mais nenhum artista de renome voltou a actuar. Fizeram milhares de quilómetros e não foram, muitas dessas vezes, assim tão bem pagas, não tinham um bom Manager, que soubesse lutar pelos seus direitos, mas mesmo assim as Doce foram a todo o lado e actuaram em locais onde hoje seria impensável.
Como se era de esperar foram vítimas de calunias, mentiras criadas por uma sociedade que não estava preparada para elas.
Para mim, as Doces são mais muito mais que um filme ou um serie da RTP, e embora seja um inicio/ um começo para se voltar a falar delas e mostrar às novas gerações o que de muito bom já se fez em Portugal, bem melhor que muita coisa que por aí anda actualmente.
Acredito que Portugal tem uma divida de gratidão para com as Doce e que no mínimo o Presidente da República deveria atribuir a Fá, Lena, Laura e Teresa a Comenda da Ordem Dom Henrique, pelos seus contributos à cultura nacional.
É importante que se tenha consciência que a história da música em Portugal, deve um enorme capitulo às Doce.
Eu por mim continuo a ser fã e estou grato às Doce pelos momentos de alegria que me dão.

Henrique Tigo