Na passada sexta-feira, dia 18 de Abril de 2008, enquanto lia o Jornal “O Varzeense”, que tinha acabado de chegar, recebi a triste notícia pela voz do meu “Tio” José Carneiro (outro tio emprestado) que o José Matos Cruz morreu, costuma-se dizer que não há coincidências, mas foi a ler o Jornal que Matos Cruz ajudou a criar e a crescer que recebi a má nova, o “Ti-Padrinho” tinha nos deixado.
José Matos Cruz, não era nem meu Tio nem meu Padrinho, mas toda a minha vida lhe chamei “Ti-Padrinho”, pela amizade e carinho que nutria por ele.
Matos Cruz casou na mesma igreja em Lisboa, no mesmo dia, no mesmo ano e quase a mesma hora que os meus avós maternos e também fizeram as botas de ouro no mesmo dia, na mesma igreja novamente todos juntos.
Ele deu a notícia do casamento dos meus pais, a notícia do meu nascimento da minha primeira exposição e publicou o meu primeiro artigo de opinião no Varzeense, foi ele igualmente que me apresentou na Comarca de Arganil e no Jornal de Arganil.
Era rara a minha exposição ou do meu Pai em que o Matos Cruz não tivesse estado, no Natal e nos aniversários, ele nunca se esquecia de ligar, assim como nos momentos felizes e nos tristes eu lembro-me deste grande homem estar sempre presente.
Quando entrei para a Faculdade e resolvi fazer uma “Análise Demográfica de Góis”, bati a várias portas a pedir documentos e dados, principalmente a porta da Câmara Municipal de Góis e claro que se fecharam todas (o que também já é normal) mas o Matos Cruz ajudou-me e facultou-me muitos dados e documentos, que tinha vindo a acumular aos longos dos anos. Acredito mesmo que os seus arquivos serão os melhores, nem a Câmara terá tantos documentos e tantas informações sobre o concelho como tinha no seu arquivo, além de objectos históricos que davam para fazer um museu, além de obras de arte. Da minha autoria tinha algumas, inclusive, tinha desenhos meus de quando tinha 6 anos e até um quadro sobre o D. Luiz da Silveira que apresentei num GóisArte e que depois lhe ofereci, e que ele tinha orgulhosamente colocado no cimo de uma espadas em sua casa.
Sei, também, que não fui o único a quem ele ajudou a realizar trabalhos, teses, etc. sobre o nosso concelho, ajudou muito mais gente, ajudou todos aqueles que amavam a sua terra como ele.
Quando acabei a Faculdade melhorei essa análise e a ADIBER publicou essa obra e, claro, nos agradecimentos tenho um parágrafo dedicado e este grande regionalista que muito contribuiu para ela.
José Matos Cruz não conseguia estar parado e em 2003 criou a Mostra de Artes Plásticas de Vila Nova do Ceira, convidou-me assim como convidou o meu Pai e outras pessoas, para fazermos parte da organização, Mostra essa, que se tornou no maior evento de artes plásticas que Vila Nova do Ceira viu.
Matos Cruz, vinculado ao amor que nutria pela sua terra, foi sempre um homem próximo do povo e que tratava com estima e consideração todos os seus conterrâneos. Além de muitas saudades, deixa-nos uma grande lição de regionalismo e vários anos de trabalho em prol do progresso e desenvolvimento desta terra. Lutou igualmente pelo saber e pela cultura no nosso Concelho, quer como vereador da cultura da CMG ou ainda como criador de algumas actividades culturais, que iram ficar para a história de Vila Nova do Ceira e até de Góis.
Durante anos esteve a frente do jornal “O Varzeense”, que não existia se não fosse o impregno deste “vinte e quatro horas por dia”.
Mesmo que houvesse alguém que não simpatizasse com ele é impossível não reconhecer o seu legado e como ele tocou directamente ou indirectamente a vida de todos os Varzeenses e daqueles que visitavam esta nossa terra.
É caso para se dizer que Vila Nova do Ceira está mais pobre e a sua “desertificação” aumentou, a nossa terra está verdadeiramente de luto, desapareceu mais um dos seus maiores regionalistas e vultos…
Obrigado “Ti-Padrinho” por tudo o que fizeste por nós, teus amigos e conterrâneos.
Henrique Tigo