domingo, julho 25, 2004

Carlos Paredes

A Cultura Portuguesa está novamente de Luto

Um dia, era muito pequeno, estava na Brasileira o Chiado e o meu Pai disse-me: Olha, aquele senhor que está ali, é o Mestre Carlos Paredes!
Olhei e vi um homem magro com os cabelos aos caracóis por pentear, óculos, um cachecol cinzento, e gabardina creme. Estava ali sentado sozinho a beber um café, e o meu pai disse: Vamos lá ter com ele. Vou apresentar-te.
Chegámos ao pé dele e o meu pai cumprimento-o:

- “Viva, Mestre! Este é o meu filhote!...”. Ele levantou a cabeça e sorriu, dizendo:
-“ Oh! Mourato, não me chames Mestre que sabes que eu não gosto… Olá, rapaz, como te chamas?”
- “Eu, Henrique como o meu pai!”
- “E também vais ser pintor?”

Eu encolhi os ombros, como quem diz não sei. A conversa continuou durante uns minutos e, de repente, ele disse uma coisa que nunca irei esquecer.

- “Sabes, Mourato, vou dar mais um espectáculo, as pessoas parece que gostam de mim, não sei bem porquê, mas gostam e eu lá vou fazendo mais uns espectáculos.”

Eu deviria ter 4/5 anos e estava habituado a encontrar todo o tipo de vultos da cultura portuguesa, quer da música, cinema, teatro e artes plásticas, mas nunca conheci ninguém com aquela modéstia e simplicidade.
Um dia, já homem, comprei um CD do Mestre Carlos Paredes. Claro que já tinha ouvido músicas dele e lido sobre ele, mas aquele CD abriu-me os olhos: Durante duas ou três semanas só houve aquele som, aquela guitarra. Aquelas mãos estavam a falar comigo, a pintar um quadro, a fazer amor com os meus ouvidos.
E voltei a lembrar-me daquele homem que tinha conhecido havia mais de 15 anos com aquela modéstia de não saber por que as pessoas gostavam de o ouvir.
Obrigado, “Mestre” Carlos! por me fazeres sonhar cada vez que ouço a tua guitarra!
Até breve e sabes uma coisa? “Nós amamos-te”!