sexta-feira, novembro 17, 2006

Campo de Concentração do Tarrafal


70 Anos após a Inauguração do Campo de Concentração do Tarrafal.

A Vila do Tarrafal ficou tristemente célebre por albergar um o já famoso Campo de Concentração onde eram encerrados os inimigos políticos do regime ditatorial de Prof. Oliveira Salazar.
Mas Afinal o que é um Campo de Concentração?
Campo de concentração é um estabelecimento governamental utilizado para a detenção em tempos de guerra ou, com mesma missão dos presídios, de reeducar o elemento. No entanto, é comum haver, nestes locais, prisioneiros de Guerra e membros de grupos étnicos que promovem insurreições por motivos ideológicos, políticos e até militares.
O Campo do Tarrafal foi uma das mais sinistras criações do Estado Novo era um Campo de Trabalhos forçados … um campo de exploração de mão-de-obra escrava ou mesmo extermínio de presos políticos…
A 29 de Outubro de 1936. O Campo de Concentração do Tarrafal abre as portas e acolhe “amavelmente” os primeiros “hóspedes”. É o Decreto-Lei número 26: 539 de 23 de Abril de 1936, que surgiu no âmbito da reorganização dos serviços prisionais, que passa o certidão de nascimento à “Colónia Penal”. Não se trata de uma prisão qualquer.
É um verdadeiro Campo de Concentração, construído com o objectivo de (des)“amparar” os indivíduos sobre os quais recaem “penas especiais”, tendo em conta o teor do Decreto-Lei número 26:643 de 28 de Maio de 1936, que reorganiza os estabelecimentos Prisionais. Os parágrafos 1 e 2 do artigo 2 do Decreto-lei 26:539 de 23 de Abril de 1936 não nos enganam. Dizem-nos que a “Colónia da Morte” serve para receber os presos políticos e sociais, sobre quem recai o dever de cumprir o desterro, aqueles que internados em outros estabelecimentos prisionais se mostram refractários à disciplina e ainda os elementos perniciosos para outros reclusos. Também o documento abrange os condenados a pena maior por crimes praticados com fins políticos, os presos preventivos, e, por fim, os presos por crime de rebelião.
O campo era um rectângulo (cerca de 250m por 180) situado num dos sítios mais insalubres do arquipélago de Cabo Verde. Como alojamento existiam umas barracas de lona onde eram metidos cerca de 12 presos em cada uma. As casas de banho não existiam. Havia apenas uns sanitários – toscos muros de tijolo com uns buracos no chão e umas latas de gasolina para as necessidades.
Como cozinha existia um telheiro com uns muros por onde a poeira entrava. A alimentação era péssima – havia ocasiões em que era necessário pôr bolas de algodão no nariz pois o cheiro da comida impedia que ela entrasse no estômago.
Não havia água potável. Só existia água num poço a cerca de oitocentos metros do campo, água salobra que os presos transportavam em latas de gasolina. Mesmo assim era má e em pequena quantidade, não chegando para a higiene. Tomavam banho com um único litro de água despejada de uma lata onde eram feitos uns buracos para o efeito.
A par da falta de condições das instalações, existe também o castigo da Frigideira, uma pequena construção completamente fechada cujas paredes, chão e tecto são constituídos por cimento, que era a pior “dor de cabeça” para qualquer preso. A Frigideira é uma espécie de purgatório. É um antro de cimento onde as almas ‘pecaminosas’ são levadas a “purificar”. Só que muitas delas nunca mais voltam ao “paraíso terrestre de Salazar”.
Com as dimensões de 0.60m por 1.70m de altura, o portão de ferro da Frigideira parece com as portas dos navios.
As celas são separadas por portões de ferro semelhantes. O equipamento é construído a uma distância considerável de qualquer outro compartimento da “casa da morte”, para que a sombra não proteja os seus habitantes do calor infernal que lá se faz, ficando permanentemente exposto ao raio solar durante o período diurno. No seu interior, só há dois companheiros: a solidão e o silêncio.
Dias e noites a fios, os homens que lá estão apenas “falavam” que a chuva que cai, apreciando o som da água que corre da Ribeira Prata para ir alagar os terrenos de Colonato.
Em Cabo Verde, região de clima variável, calha chover bastante nestes anos. A lona das barracas apodrecia de tal maneira que lá dentro chovia como na rua e de manhã acordavam com uma cara negra da poeira que se pega à humidade que cai. As águas acumuladas formavam pântanos onde se desenvolvem mosquitos transmissores do paludismo. A saúde de todos os, presos, arruína-se
Por outro lado, o quotidiano dos reclusos no Tarrafal era pautado principalmente pelos trabalhos forçados, pelas provocações e castigos de diversa ordem. O contacto com o exterior é escasso, sendo-lhes proibida, frequentemente, a troca de correspondência com os amigos e os familiares.
É importante não confundir campos de concentração com campos de extermínio sendo os casos mais conhecidos os Campos Nazis.
Os CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO Nazis aparecem Imediatamente a seguir à sua ascensão de Hitler ao poder em 30 de Janeiro de 1933, os nazis estabeleceram campos de concentração para prender todos os inimigos do regime como por exemplo comunistas, socialistas, monárquicos, etc. No começo de 1938 os judeus eram alvos de internamento apenas se se opusessem ao regime nazi. Só a partir do início da guerra é que passaram a ser internados devido à sua raça. Os primeiros três campos de concentração estabilizados foram Dachau (Perto de Munique), Buchenwald (perto de Weimar) e Sachsenhausen (perto de Berlim) por outro lado os CAMPOS DE EXTERMÍNIO nazis são Campos que matavam em massa os judeus e outros (ciganos, russos, prisioneiros de guerra, prisioneiros doentes). Eram conhecidos como campos de morte Auschewitz-Birkenau, Belzec, Chelmno, Majdanek, Sobibor e Trebelinka. Todos estavam localizados na Polónia ocupada.
Infelizmente 70 anos após a inauguração do “Campo da Morte” Português ainda existem “pessoas” capazes de negar a existência deste campo ou ainda dizerem que este campo não era assim tão mau pois existem sobreviventes que mesmo depois de lá terem estado presos anos nestas condições desumanas conseguiram chegar até hoje com 80 e 90 anos.
Que este campo de concentração não era mais que uma Colónia de Ferias onde havia Jardins e Musica entre outros divertimentos.
Curiosamente também em Auschewitz-Birkenau, Belzec, Chelmno, Majdanek, Sobibor e Trebelinka, também havia musica, peças de teatro, mas mesmo assim não deixaram de ser assassinados milhões de seres humanos e curiosamente até aqui houve sobreviventes que chegaram até hoje…
Longe de mim a pretensão de saber tudo sobre história muito menos sobre a evolução de um estado totalitário que governou Portugal durante décadas e que felizmente teve a sua transmissão para a Democracia à 25 de Abril de 1974.
Contudo como presente e futuro de uma geração livre e democrática, gosto de saber o que se passou, não esquecer o passado… gosto ainda de permanecer fiel aos valores humanitários e fraternos que me foram transmitidos por alguns grandes homens Português que muito lutaram para vivermos no regime politico em que hoje nos encontramos.
Oxalá que as gerações futuras nunca esqueçam aquilo que a alguma da geração anterior a minha quer apagar e que a minha começa a não ter quem lhe ensine.