segunda-feira, maio 26, 2008

Escandaloso

É absolutamente escandaloso

O que se passa no nosso pais é absolutamente escandaloso, são os combustíveis que não param de aumentar, os recém-licenciados sem empregos para as suas qualificações e é o primeiro-ministro e outros ministro que fumam onde querem… entre outras vergonhas.
Nunca escondi que sou fumador, mas toda a vida respeitei as leis do nosso pais, quando saiu a lei do tabaco, tive de cumprir e tenho, como dezenas de outros fumares, de vir fumar para a rua, para as portas dos restaurantes e de Centro Comerciais, sendo que estes últimos também estão fora da lei, pois não criaram como a lei os obriga um espaço para fumadores.
Mas nós fumadores cumprimos a lei e não fumamos, desde que a lei entrou em vigor e até hoje ainda ninguém foi multado por ter fumado onde não devia, pois todos cumprimos a lei, ou melhor quase todos, o nosso primeiro-ministro (PM) José Sócrates fumou, num avião e nem foi multado como previsto na lei com o "descaramento" de ter fumado dentro de um avião na viagem para a Venezuela.
Ainda à pouco tempo andei de avião e não pode fumar, nem as hospedeiras deixavam, porque raio é que deixaram o PM fumar? Acho que devia, cumprir a lei e pagar a multa, devida pelo acto de fumar no avião, mais os dois os ministros que fumaram e as hospedeiras que deixaram…
Já o inspector-geral da ASAE foi apanhado a fumar uma cigarrilha num casino logo na primeira madrugada de aplicação da actual lei e nada lhe aconteceu, que acho que é uma vergonha, que vergonha se eu ou alguém num café fizesse o mesmo, apanhava logo com uma multa, assim como o dono do café, mas eles podem tudo… Ainda tem a lata de dizer que não sabiam (afinal quem fez a lei?) pedem desculpa e dizem que vão deixar de fumar, então todos nós se algum dia fumarmos onde não devemos, também podemos pedir desculpa e dizer que vamos deixar de fumar e assim não pagamos a “multa”???
Mudando de assunto, até a pouco tempo não tinha carro pessoal e nem pagava gasolina, hoje tenho dois, um a gasolina e outro a gasóleo e digo muitas vezes durante muitos anos o gasóleo era muito mais barato que a gasolina e agora que tenho um carro a gasóleo é que estão quase ao mesmo preço, os preços dos combustíveis estão a aumentar quase todos os dias, até a Associação Nacional dos Revendedores de Combustíveis considera a subida como "escandalosa".
É absolutamente escandaloso, desde o início do ano já tivemos quase vinte subidas os combustíveis, com apenas três no sentido de baixar e as restantes a representarem aumentos.
Para mim é especulação pura, porque mesmo que o barril de petróleo suba em dólares, os euros mantém-se os mesmos, e os combustíveis que estão no deposito das estações de serviço são os mesmos quer as 23h59 quer as 00h01, por vezes podem demorar semanas até aquela estação de serviço que aumentou os combustíveis a meia-noite a esgotá-los, logo não vejo justificação nenhuma, para estes aumentos. Nós compramos os nossos combustíveis no mesmo sitio que os espanhóis, e eles tem a gasolina e o gasóleo 0,40 € mais barato por litro.
Por causa dos aumentos, os transportes públicos vão aumentar, eu até acho bem, sinceramente só não compreendo porque aumenta também o preço de um bilhete de Metropolitano (deve gastar muito gasóleo).
Os taxistas essa classe de “bons condutores”, querem que o governo crie um preço especial para eles, (deve ser para os permear por serem tão bons condutores, educados e amigos do ambiente) se o governo tem de criar um preço especial do gasóleo, que seja para os Bombeiros esses sim, fazem um bom serviço ao pais e as populações e não tem qualquer regalias especiais e dão-nos tanto todos os dias.
Gostava que as refinarias mostrassem as facturas do que paga por cada barril que compram, só assim nós vermos de facto o que eles estão a fazer, por outro lado não podemos esquecer que o Governo fecha os olhos a estas subidas porque representam mais receita, através do IVA, para os seus cofres.
Será que o governo, e nomeadamente Sócrates e Manuel Pinho, têm razões para manifestar surpresa e alegar ignorância sobre o escândalo dos preços dos combustíveis em Portugal como pretenderam fazer crer?
De acordo com a Direcção Geral da Energia, o peso (%) das taxas no Preço de Venda ao Público em relação a todos os combustíveis era de 54% em Portugal, percentagem esta que era igual à média da União Europeia (15 países). Em relação ao gasóleo era de 48% em Portugal e 49% na UE15; e à gasolina 60% em Portugal e 59% na UE15.
Em Março de 2008, sem impostos, o preço do gasóleo em Portugal era superior ao preço médio na União Europeia em 0,7% e o da gasolina 95 em 3,5%. Mas existiam países, muito mais desenvolvidos e com custos mais elevados do que Portugal, onde a diferença era maior. Em Março de 2008, sem impostos, o preço do gasóleo em Portugal era superior ao da Inglaterra em 12,3%, e o do gasolina era superior ao da Suécia em 17,8%. Por outro lado, em Dezembro de 2007, com impostos, o preço do gasóleo em Portugal era superior em 0,9% ao preço médio da U.E-15 países, e o da gasolina em 6,2%. Também aqui se verificam grandes diferenças. Assim, o preço, com impostos, em Portugal da gasolina era superior em 24,7% ao de Espanha, e o de gasóleo era superior em 17,8% ao preço do Luxemburgo.
Eu proponho, que todos nós condutores adiremos a uma Greve e durante 24 horas, ninguém mas absolutamente, ninguém metesse combustíveis para ver a reacção do Governo e das estações de serviço.
Ouvi na televisão dizer que o desemprego baixou em Portugal, fiquei feliz, muito feliz mas não pode deixar de pensar nos recém-licenciados e até nos licenciados que estão no desemprego, o nosso Governo cada vez mais fala em qualificados e em especializações, aliás para dizer a verdade, já falou mais, falava muito nisso quando houve aquela polémica de licenciatura em Engenharia tiradas ao Domingos, mas aos pouco e poucos tem vindo a esquecer essa polémica (nunca devidamente esclarecida) e as qualificações.
Somos o Pais da Europa com mais licenciados no desemprego e dos que não estão no desemprego só 30% estão a exercer o seu curso e desses 30% muitos estão a fazer estágios profissionais e que no máximo passado um ano estão no desemprego ou a fazer qualquer outra coisa… Os nossos “melhores licenciados” vão para o estrangeiro (o que já não acontecia desde o Estado Novo) os que cá ficam vão trabalhando no que podem, acreditem que não existe nada mais triste do que se ir a uma entrevista de trabalho e ouvir que temos habilitações a mais! E infelizmente hoje em dia é que se ouve mais, será que quem faz as entrevistas acha que os licenciados ficam menos “chateados” quando não arranjam emprego se ouvirem:
“O Dr. tem um curriculum muito Bom, mesmo muito Bom, aliás Bom demais, o Dr. com um curriculum deste até teria vergonha em vir trabalhar para nós…”
Será que eles acham mesmo que os licenciados ficam impressionados com afirmações deste tipo?
O nosso Pais está pior está um estado, absolutamente escandaloso!!!

Henrique Tigo

Atentado a Salazar

O atentado a Salazar

Nunca ficou bem esclarecido (devido a PVDE e a Censura) o que foi o atentado ao Prof. António de Oliveira Salazar, cometido na manhã do Domingo 4 de Julho de 1937.
A P.V.D.E. – Polícia de Vigilância e Defesa do Estado – afirmou, pela voz do seu Director Capitão Catela, que teriam sido cinco indivíduos pertencentes à “Legião Vermelha”, aliás já conhecidos pela PVDE, os autores do atentado.
Naquela manhã, deflagrou uma potente bomba num colector de uma rua por onde passaria Salazar, a caminho da missa de Domingo, mas o veículo em que o então chefe de governo se transportava não foi atingido, pois Salazar que nunca se atrasava, naquele dia tinha se atrasado 15 minutos a sair de casa, pois tinha recebido um telefonema urgente de um dos seus ministros.
Prisões e uma manifestação seguiram-se ao acto que teve como consequência secundária a abertura de uma enorme cratera na Avenida Barbosa do Bocage.
Os Ditadores Mussolini e Hitler felicitaram Salazar por ter escapado ileso do atentado.
António de Oliveira Salazar nasceu em 1889, em Santa Comba Dão, descendente de uma família de pequenos proprietários agrícolas.
A sua educação foi fortemente marcada pelo Catolicismo, chegando mesmo a frequentar um seminário, passando então para a Universidade de Coimbra, onde veio a ser docente de Economia Política.
Ainda durante a Primeira República, Dr. Salazar iniciou a sua carreira política como deputado católico para o parlamento Republicano em 1921 (tendo sido deputado pouco mais que uma semana, por não concordar com aquela linha politica).
Já na ditadura militar, Dr. Salazar foi nomeado para Ministro das Finanças, cargo que exerceu apenas por quatro dias, devido a não lhe terem sido delegados todos os poderes que exigia.
Quando Óscar Carmona chegou a Presidente da República, Salazar regressou à pasta das Finanças, com todas as condições exigidas (supervisionar as despesas de todos os Ministérios do governo).
Apesar de severidade do regime que impôs, publicou em 14 de Maio de 1928 a Reforma Orçamental, contribuindo para que o ano económico de 1928-1929 registasse um saldo positivo, o que lhe granjeou prestígio.
O sucesso obtido na pasta das Finanças tornou-o, em 1932, chefe de governo.
Em 1933, com a aprovação da nova Constituição, formou-se o Estado Novo, um regime autoritário semelhante ao fascismo de Benito Mussolini.
As graves perturbações verificadas nos anos 20 e 30 nos países da Europa Ocidental levaram Salazar a adoptar severas medidas repressivas contra os que ousavam discordar da orientação do Estado Novo.
Ao nível das relações internacionais, conseguiu assegurar a neutralidade de Portugal na Guerra Civil de Espanha e na II Guerra Mundial.
O declínio do império Salazarista acelerou-se a partir de 1961, a par do surto de emigração e de um crescimento capitalista de difícil controlo. É afastado do governo em 1968 por motivo de doença, sendo substituído por Prof. Marcello Caetano.
Parecia que estava escrito que o Prof. Salazar iria morrer no mês de Julho, escapou ileso em Julho de 1937, acabando por falecer em Lisboa, a 27 de Julho de 1970.

25 de Abril - Fora de Lisboa

O 25 de Abril de 1974
Fora de Lisboa



A instabilidade governativa aliada à instabilidade financeira leva à revolta de 28 de Maio de 1926 e põe fim à primeira Republica Portuguesa, são dissolvidas as instituições políticas democráticas, extintos os partidos políticos e é instaurada uma ditadura militar, onde surge em destaque a figura de António de Oliveira Salazar, primeiro como Ministro da Finanças e depois como Presidente do Conselho.
Salazar surge como uma espécie de salvador e que irá resolver a grave crise Económica e Financeira em que Portugal se encontrava.
Em 1932 assume o cargo de Presidente do Conselho, lugar que irá ocupar até 1968 onde dará lugar a Marcelo Caetano.
A constituição de 1933 dá plenos poderes a Salazar que consagrava um Estado forte e onde é implantado o Nacionalismo corporativo, o intervencionismo económico-social e o imperialismo colonial. Eram assim constituídas as linhas mestras de um sistema de governo que após a guerra civil de Espanha se caracterizou pela censura férrea das opiniões discordantes e pela repressão dos seus opositores. A pedra base de tais métodos é a constituição da polícia política (PIDE).
A obra de reorganização geral do país, e especialmente a sua reconstrução financeira, foi realização notabilíssima que, só por si, justificou e elevou o Estado Novo e Salazar.
Salazar soube ainda manter a neutralidade durante a 2ª guerra Mundial e preservando os Portugueses dos efeitos mais dolorosos da guerra.
Com a vitória, na segunda grande guerra das Democracias Ocidentais sobre as potências totalitárias (excepto URSS), verificou-se no Ocidente uma expansão dos regimes democráticos pluralistas, e começam a surgir as primeiras pressões sobre Portugal, e que seria o momento de o Estado Novo dar lugar a uma democracia pluralista.
Mas a passagem de Portugal para uma democracia pluralista teria como consequência imediata ou a curto prazo, a perda das suas colónias Ultramarinas.
Assim Salazar teve uma “luta” a nível externo conta as pressões internacionais, procurando fazer aceitar internacionalmente a continuação do Estado Novo com as características que tinha e sempre tivera.
O regime e a Igreja caminhavam lado a lado, com uma ideologia marcadamente conservadora, o Estado Novo orientava-se segundo os princípios consagrados pela tradição: Deus, Pátria, Família.
Uma política colonialista, que afirmava Portugal como um Estado plurícontinental e multíracial. Todavia, a partir de 1961, já com muitas pressões internacionais para o país conceder a independência às suas colónias, teve início uma das páginas mais negras da nossa história: A guerra colonial.
A insatisfação política e a desgastante guerra colonial em África, levantou em armas as principais unidades militares do exército das áreas metropolitanas. A acção foi eficaz, precisa e consistente. Passadas 18 horas sob o início do movimento militar, o grosso das forças fiéis á ditadura estava neutralizado.
Tinha-se dado a revolução de 25 de Abril de 1974, sobre a qual eu já muito escrevi mas nunca se fala do que se passou a 25 de Abril de 1974, fora de Lisboa, Reflexos, para além de Lisboa, da acção levada a efeito pelo Movimento das Forças Armadas, por exemplo em Coimbra muitos milhares de pessoas realizaram nesta cidade uma manifestação de apoio à situação criada pelo Movimento da Forças Armadas, sem quaisquer interferências policiais, na sede da associação Académica, cuja a autonomia administrativa vinha sendo sistematicamente denegada. Daquele local saiu uma massa de população que foi engrossando ao longo das avenidas e ruas percorridas.
Aveiro várias centenas de pessoas, em que predominava a juventude, realizaram, nesta cidade, calorosas manifestações de agradecimento e apoio às Forças Armadas pelo êxito do movimento que derrubou o governo de Prof. Marcello Caetano.
Em Braga, estudantes dos Liceus Sá de Miranda e de D. Maria II, das Escolas do Ciclo Preparatório, Comercial, Industrial e do Magistério, em número de alguns milhares, percorreram as ruas da cidade vitoriando o Exército. Às 19.00 horas, realizou-se outra manifestação de apoio às Forças Armadas, promovida pelos democratas desta cidade.
Setúbal às 19.00 horas, após o encerramento do comércio, realizou-se a anunciada manifestação de apoio à Junta de Salvação Nacional. Centenas de jovens, incluindo muitos vindos de fora, percorreram as ruas da cidade empunhando cartazes convidando a população a juntar-se na Praça do Bocage, onde deram gritos de “Viva a Liberdade” e exigiram a presença dos soldados.
No Alentejo em Beja, reuniram-se, num salão desta cidade, dezenas de democratas, como objectivo dominante de enviarem um telegrama à Junta de Salvação Nacional com a seguinte informação: “Democratas de Beja, reunidos em sessão plenária, saúdam essa Junta por ter derrubado o governo fascista, libertando presos políticos, abolindo a censura, extinguindo a P.I.D.E./D.G.S. e dissolvendo a A.N.P., Legião e Mocidade Portuguesa.”. no salão nobre do Governo Civil, o ex-Governador, Doutor Fernando Nunes Ribeiro, transmitiu os seus poderes ao governador substituto, Doutor Gonçalves da Cunha, ao qual entregou, em cerimónia simbólica, as chaves do edifício. E em ÉVORA a vida citadina processou-se, com toda a normalidade pelos contactos que os jornalistas tiveram com a população, puderam verificar que se encontra mentalizada do momento histórico que se está a viver. Quando as tropas cercaram o quartel-general da Região Militar o povo acatou as ordens recebidas e aplaudiu com vivas e palmas as Força Armadas.
Do que sei só em Leiria se registou uma calma absoluta, funcionando todos os estabelecimentos públicos e comerciais. Apenas os bancos estiveram fechados, com excepção do de Portugal. A P.S.P. reapareceu nas ruas, mas apenas para controlar o trânsito e para as rondas habituais.
Os acontecimentos relatados constituem uma parte relevante do que foi o 25 de Abril de 1974 que pôs fim a um longo período de opressão e tirania, fazendo com que as forças armadas se reencontrassem com o seu povo.
A acção militar firme e determinada, mas ao mesmo tempo paciente e esclarecida não provocou o derramamento de sangue entre os Portugueses.
O único acto violento foi praticado pela polícia política da ditadura que vendo face á acção militar libertadora, o seu inevitável fim, disparou indiscriminadamente sobre os cidadãos de Lisboa provocando 4 mortos e meia centena de feridos.
No dia 26 de Abril de 1974 iniciou-se a libertação sem condicionalismos de todos os presos políticos, e o novo poder autorizou sem reservas o regresso de todos os exilados políticos, a censura foi abolida, os partidos políticos foram autorizados, a policia política foi extinta, e as liberdades civis restauradas.
O Estado Novo no seu início teve a sua importância, o seu poder e a sua disciplina foram importantes para poder reorganizar o país do estado caótico das finanças e da economia. Mas posteriormente não soube fazer a transição necessária para a democracia. Salazar no inicio do Estado Novo foi o salvador de Portugal, mas com o passar dos anos manteve Portugal “preso” a uma ideologia retrógrada, acabando por deixar o país isolado da comunidade internacional.
O êxito do Movimento das Forças Armadas teve repercussões em todo o País como por todo o Mundo, mas infelizmente passados 34 anos ainda pouco sabemos, sobre o que se passou fora de Lisboa, e vejo com grande tristeza que a minha geração e que as gerações seguintes ainda sabem menos, talvez daqui uns anos além se lembre, acredito e tenho de acreditar que ainda exista alguém que resista, alguém que diga Não!!!.

Henrique Tigo

Geração de 1870

GERAÇÃO DE 1870
Questão Coimbrã (Iª Parte)



Este artigo tem por base uma geração de jovens intelectuais que marcou a literatura portuguesa e parte na nossa história com os seus feitos, ideais, problemas e discussões.
Primeiro falar-se-á dos principais intervenientes da geração de 70, que baseados no Fontanismo e no Liberalismo incutidos pelos ideais da Revolução Francesa, vieram a realizar uma profunda alteração na cultura portuguesa. São disso exemplo: a Questão Coimbrã e as Conferências do Casino.
Na Questão Coimbrã, serão abordadas as suas causas, as discussões e consequências que esta veio criar no seio desta remodelada cultura.
As Conferências do Casino são o resultado dos encontros de alguns desses intelectuais que tentaram alterar a nossa política e mostrar ao povo português o inconformismo com o governo.
Os movimentos ocorridos nos últimos tempos em Portugal, como o Fontismo e a Regeneração, deram origem a desequilíbrios económicos na sociedade. As dívidas ao estrangeiro contraídas para pagar as infra-estruturas, agravam a situação económica, visto que no fim da Regeneração o País estava na falência, a adulteração das instituições, a astúcia dos políticos, a fraude e a corrupção do poder político vão que contribuir para uma degradação país.
Na cultura persistiu a falta de apoio que agravou as difíceis condições de vida dos Artistas. Os escritores precisavam da protecção do Estado, e este oferecia importantes cargos no Governo em troca do “controlo da pena” de onde vai surgir a chamada “literatura oficial”.
Surge, então, um grupo de jovens intelectuais do final do século XIX liderado ideologicamente por Antero de Quental e José Fontana e do qual fizeram parte alguns dos maiores escritores da História da Literatura Portuguesa, como Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão, Téofilo Braga e Guerra Junqueiro assim como “(…) poetas, romancistas, críticos, historiadores, sociólogos, políticos, filósofos, homens da mais diversa origem e procedência, todos eles associados num mesmo ideal,(…)” formaram o essencial da chamada Geração de 1870.
Iluminados por ideias inovadoras que ingeriram da cultura europeia, sobretudo da francesa, opuseram-se a um governo monárquico cada vez mais contestado nos finais da centúria. Racionalistas, herdeiros do positivismo de Comte, do idealismo de Hegel e do socialismo utópico de Proudhon e Saint-Simon, protagonizaram uma autêntica revolução cultural no nosso País, agitando consciências e poderes estabelecidos “Foram eles o resultado da total abertura de Portugal ao mundo civilizado de então, (…)” . Esta revolução cultural acabou por desembocar numa revolução política: a instauração da República, a 5 de Outubro de 1910.
É contra todas estas condições, contrastando com o avanço no resto da Europa, que surge a Geração de 70, um grupo de estudantes universitários de Coimbra que, por volta de 1865, se insurge sobretudo contra o gosto ultra-romantismo, uma corrente literária da segunda metade do séc. XIX, e que se caracterizou por levar ao exagero, e por vezes até ao ridículo, as normas e ideais preconizadas pelo Romantismo, nomeadamente, a exaltação da subjectividade, do individualismo, do idealismo amoroso, da Natureza e do mundo medieval., contra o monopólio de António Feliciano de Castilho um escritor português de formação neoclássica, que se rende ás tendências do Romantismo realizando diversas obras dentro deste estilo literário. É uma figura de destaque na segunda geração romântica representando uma espécie de padrinho dos jovens poetas que iniciando a sua carreira, recorriam à sua influência na negociação com as editoras.
Antero de Quental chamou à escola de Castilho a "Escola do Elogio Mútuo", já que os seus membros passavam o tempo a elogiar-se mutuamente, para prestígio do grupo. A Geração de 1870 defende uma maior abertura à cultura europeia, e uma reforma do País, sobretudo a nível cultural.
Denota-se no grupo a influência do socialismo utópico com laivos republicanos e uma influência francesa muito forte, de pendor anticlerical As facetas comuns à modernidade do século XIX também estão presentes, nas facetas racionalista e positivista, ao estilo de Augusto Comte, e na prevalência dos valores expressos em obras como as "Origens do Cristianismo", de Renan.
A Questão Coimbrã também se designou por Bom-Senso e Bom-Gosto. “(…) pôs frente a frente dois bandos (…)” , os dois protagonistas são, por um lado, António Feliciano de Castilho e, por outro, Antero de Quental. Tudo começou com a proclamação de Castilho, no prefácio do poema de Pinheiro Chagas, Poema da Mocidade (1865), de que o texto em questão tinha bastante nível e o seu autor um talento invejável.
Na opinião de Antero, esta era apenas uma forma de louvar um dos seus jovens protegidos. Este facto levou Antero a lançar um opúsculo intitulado Bom-Senso e Bom-Gosto (1866). Estava montada a guerra literária que foi considerada como a polémica mais renhida de sempre em Portugal. O próprio Camilo se envolveu nesta polémica ao escrever Vaidades irritadas e irritantes, em que atacava, com sarcasmo, a nova geração literária. Em suma, pode-se dizer que esta polémica não foi mais do que um confronto entre os defensores do velho Romantismo, já a agonizar, e a juventude apologista do movimento literário que se seguiria, o Realismo Conferências do Casino, denominam-se assim por terem tido lugar numa sala alugada do Casino Lisbonense e foram uma série de cinco palestras realizadas em Lisboa no ano de 1871 pelo grupo do Cenáculo (jovens escritores e intelectuais, denominados de vanguarda) que trazem de Coimbra para Lisboa a disposição boémia e tentam agitar a sociedade no que diz respeito a questões políticas e mesmo sociais. Foi, então, um grupo de jovens escritores e intelectuais, reunidos em Lisboa após acabarem os seus estudos em Coimbra. Antero aparece como grande impulsionador desde 1868, iniciando os outros membros do grupo em Proudhon.
A ideia destas palestras surgiu na casa da Rua dos Prazeres, onde na época reunia o Cenáculo. Antero e Batalha Reis alugaram a sala do Casino Lisbonense. Foi no jornal "Revolução de Setembro" que foi feita a propaganda a estas Conferências.
A 18 de Maio foi divulgado o manifesto, já anteriormente distribuído em prospectos, e que foi assinado pelos doze nomes que tinham intenções organizadoras destas Conferências Democráticas.

Manifesto
"Ninguém desconhece que se está dando em volta de nós uma transformação política, e todos pressentem que se agita, mais forte que nunca, a questão de saber como deve regenerar-se a organização social.
Sob cada um dos partidos que lutam na Europa, como em cada um dos grupos que constituem a sociedade de hoje, há uma ideia e um interesse que são a causa e o porquê dos movimentos.
Pareceu que cumpria, enquanto os povos lutam nas revoluções, e antes que nós mesmos tomemos nelas o nosso lugar, estudar serenamente a significação dessas ideias e a legitimidade desses interesses; investigar como a sociedade é, e como ela deve ser; como as Nações têm sido, e como as pode fazer hoje a liberdade; e, por serem elas as formadoras do homem, estudar todas as ideias e todas as correntes do século.
Não pode viver e desenvolver-se um povo, isolado das grandes preocupações intelectuais do seu tempo; o que todos os dias a humanidade vai trabalhando, deve também ser o assunto das nossas constantes meditações.
Abrir uma tribuna, onde tenham voz as ideias e os trabalhos que caracterizam este momento do século, preocupando-se sobretudo com a transformação social, moral e política dos povos;
Ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo-o assim nutrir-se dos elementos vitais de que vive a humanidade civilizada;
Procurar adquirir consciência dos factos que nos rodeiam, na Europa;
Agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da Ciência moderna;
Estudar as condições da transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa;
Tal é o fim das Conferências Democráticas.
Têm elas uma imensa vantagem, que nos cumpre especialmente notar: preocupar a opinião com o estudo das ideias que devem presidir a uma revolução, de modo que para ela a consciência pública se prepare e ilumine, é dar não só uma segura base à constituição futura, mas também, em todas as ocasiões, uma sólida garantia à ordem.
Posto isto, pedimos o concurso de todos os partidos, de todas as escolas, de todas aquelas pessoas que, ainda que não partilhem as nossas opiniões, não recusam a sua atenção aos que pretendem ter uma acção – embora mínima – nos destinos do seu país, expondo pública mas serenamente as suas convicções e o resultado dos seus estudos e trabalhos.
Lisboa, 16 de Maio de 1871 – Adolfo Coelho, Antero de Quental, Augusto Soromenho, Augusto Fuschini, Eça de Queiroz, Germano Vieira de Meireles, Guilherme de Azevedo, Jaime Batalha Reis, Oliveira Martins, Manuel de Arriaga, Salomão Saragga, Téofilo Braga."


GERAÇÃO DE 1870
Questão Coimbrã (IIª Parte)

A 1ª Conferência “ O Espírito das Conferências” em 22 de Maio de 1971, proferida por Antero de Quental, de certa forma introdutória daquelas que se seguiram. De acordo com os relatos dos jornais da época, único testemunho que resta, esta palestra consistiu num desenvolvimento do programa que tinha sido previamente apresentado.
Antero começou por se referir à ignorância e indiferença que caracterizava a sociedade portuguesa, falando da repulsa do povo português pelas ideias novas e na missão de que eram incumbidos os "grandes espíritos" e que consistia na preparação das consciências e inteligências para o progresso das sociedades e resultados da ciência. Referiu o exemplo que constitui a Europa e a excepção formada por Portugal em face deste exemplo.
A conclusão da palestra termina com o apelo que Antero faz às "almas de boa vontade" para meditarem nos problemas que iriam ser apresentados e para as possíveis soluções, embora estas últimas se constituíssem como opostas aos princípios defendidos pelos conferencistas.
A 2ª Conferência "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três séculos" – 27 de Maio de 1871, foi também proferida por Antero de Quental. Na introdução Antero pressupõe três atitudes ou pontos de partida. Em primeiro lugar "O Peninsular", falar da Península como um todo; em seguida uma aceitação – os Povos obedecem a um estatuto anímico colectivo, estrutural – é a crença no génio de um Povo; e, por fim, uma atitude judicatória – Antero julga a História, como uma entidade, o juízo moral, social e político.
Em seguida enumera e discute as causas da decadência. E põe que a solução destes problemas seria a oposição ao catolicismo, a ardente afirmação da alma nova, a consciência livre, a contemplação directa do divino pelo humano, a filosofia, a ciência, e a crença no progresso, na renovação incessante da humanidade pelos recursos inesgotáveis do seu pensamento, sempre inspirado. Assim como a oposição à monarquia centralizada, a federação republicana de todos os grupos autonómicos, de todas as vontades soberanas, alargando e renovando a vida municipal, a iniciativa do trabalho livre, a indústria do povo, pelo povo, e para o povo, não dirigida e protegida pelo Estado, mas espontânea.
Sendo a 3ª Conferência "A Literatura Portuguesa" – 5 de Junho de 1871, proferida por Augusto Soromenho, professor do Curso Superior de Letras.
Nesta palestra faz uma crítica aos valores da literatura nacional, concluindo que ela não tem revelado originalidade. Há uma negação sistemática dos valores literários nacionais, exceptuando escritores como Luís de Camões, Gil Vicente e poucos mais, atacando os poetas, dramaturgos, romancistas e jornalistas seus contemporâneos. Transmite uma visão decadentista, ao negar originalidade e peculiaridade à literatura nacional.
Tem a sua vertente revolucionária ao inculcar a ideia de que a literatura portuguesa deverá sofrer um processo de reconstrução que deverá partir de uma sociedade revitalizada.
Uma literatura com carácter nacional mas que se paute por valores universais.
O modelo e guia desta renovação salvadora da literatura nacional seria Chateaubriand, com o conceito de Belo absoluto como ideal da literatura, constituindo, este, um retrato da Humanidade na sua totalidade.
A 4 ª Conferência "A Literatura Nova ou o Realismo como Nova Expressão de Arte" – 12 de Junho de 1871, dada por Eça de Queirós e que encontra a sua inspiração em Proudhon e, no aspecto programático, no espírito revolucionário destas Conferências referido por Antero nas palestras que proferiu.
Eça salientou a necessidade de operar uma revolução na literatura, semelhante àquela que estava a ter lugar na política, na ciência e na vida social. O espírito revolucionário tem tendência a invadir todas as sociedades modernas, afirmando-se nas áreas científica, política e social. A revolução constitui uma forma, um mecanismo, um sistema, que também se preocupa com o princípio estético. O espírito da revolução procura o verdadeiro na ciência, o justo na consciência e o belo na arte.
Dando uma noção mais concreta, Eça sistematiza:
"1º - O Realismo deve ser perfeitamente do seu tempo, tomar a sua matéria na vida contemporânea. (...);
2º - O Realismo deve proceder pela experiência, pela fisiologia, ciência dos temperamentos e dos caracteres;
3º - O Realismo deve ter o ideal moderno que rege a sociedade – isto é: a justiça e a verdade"
Foca aqui as relações da literatura, da moral e da sociedade. A arte deve visar um fim moral, auxiliando o desenvolvimento da ideia de justiça nas sociedades. Fazendo a crítica dos temperamentos e dos costumes, a arte auxilia a ciência e a consciência. O Realismo conduzirá à regeneração dos costumes. Conclui que a arte presente atraiçoa a revolução, corrompe os costumes. De tal forma, ou se há-de tornar realista ou irá até à extinção completa pela reacção das consciências. O modo de a salvar é fundar o realismo, que expõe o verdadeiro elevado às condições do belo e aspirando ao bem, pela condenação do vício e pelo engrandecimento do trabalho e o da virtude."
A 5 ª Conferência "A Questão do Ensino" – 19 de Junho de 1871, proferida por Adolfo Coelho que se inicia com uma posição de ataque às coisas portuguesas. Traça o quadro desolador do ensino em Portugal, mesmo o superior, através da História.
A solução proposta passa pela separação completa da Igreja e do Estado e por uma mais ampla liberdade de consciência, solução que, no entanto, era restrita a uma zona da vida nacional.
Para Adolfo Coelho a Igreja deprime o povo e do Estado nada havia a esperar. Tomando isto em consideração, o remédio seria apelar para a iniciativa privada, para que esta difundisse o verdadeiro espírito científico, o único que beneficiaria o ensino.
Quando a 26 de Junho se preparava outra conferenciada autoria de Salomão Sáraga, intitulada Os Historiadores Críticos de Jesus à entrada da sala do Casino Lisbonense estava afixado na porta uma portaria ministerial que proibia a realização dessa e de outras conferências.
Os conferencistas indignados vão ser signatários de um protesto publicado na manhã seguinte nos jornais da capital: “Em nome da liberdade de pensamento, da liberdade da palavra, da liberdade de reunião, bases de todo o direito público, únicas garantias da justiça social, protestamos ainda mais contristados que indignados, contra a portaria manda arbitrariamente fechar a sala das Conferências Democráticas. Apelamos para a opinião pública, para a consciência liberal do país, reservando a plena liberdade de respondermos a esta acto de brutal violência como nos mandar a nossa consciência de homens e de cidadãos.”
Este foi um de muitos protestos feitos, em vários jornais da época, levando o ministro à demissão.
A Geração de 1870, a Questão Coimbrã e as Conferências do Casino, marcaram toda uma época de novos ideias, de novas mentes e maneiras de pensar, e sobretudo mostraram haver uma revolucionária corrente de jovens pensadores com o intuito de remodelar a política e a cultura do nosso país.
Este artigo um pouco vasto foi uma boa forma de conhecermos uma pequena parte da nossa cultura (Coimbrã) e a sua evolução no final do século XIX, visto ser este um assunto que dificilmente iríamos, por nós próprios, estudar e aprofundar.
O ideal revolucionário deste grupo veio esbater-se perante as impossibilidades práticas de intervenção no país e a consciência de que também Europa se encontrava em crise, isto conduziu os intelectuais ao cepticismo que os levou a formar um grupo auto denominado dos Vencidos na Vida, conscientes do fracasso e da distância a que permaneciam os seus ideais originais.

Henrique Tigo

BIBLIOGRAFIA

SIMÕES, João Gaspar
“A Geração de 70 – Cadernos Culturais”, Editorial Inquérito, Lisboa
MARQUES, A. H. de Oliveira
“Breve História de Portugal”, Editorial Presença, Lisboa, 1995.
http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/eca_queiroz/manifesto.html