segunda-feira, janeiro 22, 2007

Joaquim Henriques Nogueira



Tributo a Joaquim Henriques Nogueira
(O Meu Avó)

É sempre difícil ver partir aqueles que nós são queridos mesmo quando estão muitíssimo doentes, mas é ainda mais difícil é quando se trata de um segundo Pai… pois era isso que o meu avô Joaquim Henriques Nogueira era para mim.
A Várzea Pequena viu-o nascer na manhã de 10 de Outono de 1924, foi colega de escola de muitos Varzeenses e andou na tropa com outros como o Sr. António Fernandes.
Foi o primeiro Varzeense a ter uma máquina fotográfica particular e a ser mal interpretado por isso, alias como são todos os pioneiros, mas a verdade é que graças a ele hoje tenho um arquivo fotográfico familiar que poucos Varzeenses se podem gabar de ter. Através dessas fotos conheci os meus antepassados e, consequentemente, conhecer melhor as minhas raízes e origens Varzeenses e a amar Vila Nova do Ceira.
Com tenra idade a Várzea de Góis, como era conhecida nessa a altura, viu-o partir em direcção a "Capital" Lisboa como aconteceu com centenas de jovens da sua idade, só voltando nas ferias.
Numa dessa ferias voltou casado com uma prima direita que também vivia em Lisboa, Antónia Emília Simões dos Santos filha do Casimiro "São Paulo" e mais tarde apareceu com uma linda filha, Maria Fernanda que muitos anos depois chegou com um jovem marido Henrique Mourato e algumas ferias depois apareci eu…
Não sei qual é a primeira memória que tenho dele pois ele foi e é uma constante da minha vida. Desde os primeiros passos que dei de mão dada com ele no Jardim Príncipe Real, até a esperar por ele todas as manhã para almoçar… Foi ele que me ensinou a jogar as cartas, dominó e as Damas. Pode não me ter ensinado, Latim, Física ou Química, mas ensinou-me a ser honesto e integro como ele sempre foi. Ensinou-me ainda a respeitar os mais idosos e a ser um verdadeiro ser humano, não uma pessoa de "plástico".
Ficou muito feliz que, mesmo doente e quase, quase a deixar-nos, eu tivesse realizado alguns dos sonhos que ele tinha para mim, como tirar a carta de condução, um sonho dele próprio que nunca teve oportunidade de realizar e ter um neto Dr. e a ele dedico a minha Licenciatura.
Vivi paredes-meias com ele durante mais de 10 anos, morava duas ruas a frente e todos os dias estávamos juntos, e posso garantir que acredito que existam poucos Avos que fossem mais carinhosos, meigos e até babados dos seus netos como ele era de mim… posteriormente tivemos de mudar para mais longe, mas todos os fins-de-semana estava com ele e as nossas "jogatanas"e conversas continuaram. Honestamente não me lembro de um momento importante quer positivo quer negativo da minha vida onde este grande homem não estivesse presente.
Há três anos tive contacto pela primeira vez com o "Anjo Negro" da morte quando este ceifou a vida a minha querida avó Emílinha e aos poucos e poucos vi o meu avô apagar-se, fazendo e dizendo coisas estranhas, que ao inicio não entendíamos e não queríamos acreditar, mas viemos mais tarde a saber que ele tinha a doença de Alzaimer há muitos anos, facto que nem ele sabia, pois os médicos sempre o esconderam, como esconderam o "Cancro" que lhe há mais de 10 anos lhe estava a minar o corpo todo… no espaço de dois anos deu entrada no hospital mais de trinta vezes sofrendo aquilo que ninguém pode imaginar… vi com os meus olhos o desaparecimento do Sr. Nogueira e o nascimento de uma cadáver com vida que mais parecia uma daquela vitimas do Holocausto Nazi, quando ele nos deixou pesava pouco mais de vinte quilos…
Lutou com todas as forças que tinha, muitas vezes vínhamos do hospital a pensar que seria a última vez que o tínhamos visto com vida, ele dava a volta e mandava o "Anjo Negro" embora… quero salientar ainda a força dos meus Pais que nunca o abandonaram e que todos os dias estiveram os seu lado, numa altura em que se fala de mau tratos aos idosos que aumentaram mais de 30% em Portugal, na minha casa vi o contrario, vi o que é o amor de uma filha pelo seu pai…
Eu casei no dia 2 de Dezembro de 2006 e nos últimos dias em que esteve consciente e lúcido, disse com uma voz muito sumida e trémula:
-Tenho de ir comprar um fato, para levar ao casamento do meu menino!
Infelizmente, esse foi o único desejo que não foi possível realizar e ele não foi, mas realizei-lhe mais uma vontade, quando a minha mãe nasceu em 1956, ele comprou uma garrafa de "Vinho do Porto" para ser bebido no casamento do primeiro neto e nós fizemos isso, levamos a garrafa e foi feito um brinde em homenagem a ele.
Um mês e meio depois no passado dia 16 de Janeiro de 2007, dias antes de fazer 3 anos que a minha avó e sua mulher nos deixou, após o almoço o Coração já muito fraquinho deixou de bater e ele partiu…Não tendo conseguido desta vez mandar o "Anjo Negro" embora…
Quero acabar por dizer que ele, o meu Avô o meu Jaquim, sempre foi uma pessoa muito humana e solidária, sempre que alguém estava doente ou no hospital ele era a primeira pessoa a correr para dar a sua solidariedade, mas como nem todos são como ele, quero agradecer aos poucos que se preocuparam com ele e o foram visitar quando ele mais necessitou de solidariedade, um pouco de carinho e de amor… para esses o meu muitíssimo obrigado em meu nome e em nome da minha família.
No dia 17 de Janeiro de 2007, voltou definitivamente para a sua muito amada terra, onde por coincidência ficou a dormir a sono eterno, na campa atrás da sua mãe Antónia Henriques Nogueira.
A ti meu avozinho querido, deixo um último beijo carregado com aquele amor tudo que sempre me deste…
Agora descansa, bem mereces…

Henrique Tigo