sábado, janeiro 25, 2014

Eu praxante me confesso



Eu praxante me confesso

















Fui praxante e membro da COPA (Comissão Organizadora da Praxe Académica) da Universidade Lusófona de 2003 a 2006 e tenho muito orgulho nisso.
Talvez por a minha família materna ser de Coimbra, concelho de Góis, o pai da minha madrinha ser o actor Alberto Ribeiro, que fez o filme Capas Negras, o meu sonho toda a vida foi usar o traje académico.
Quando finalmente entrei para a Universidade a minha querida Avó, ofereceu-me o traje. Fui comprá-lo a Coimbra numa loja com grande tradição. Lembro-me que foi em Agosto e estavam mais de 40 Graus, mas não importava eu tinha finalmente o meu traje!
Mas voltando às praxes, o meu curso tinha acabado de abrir na Universidade Lusófona, logo não tinham ainda Veteranos para me praxarem. Então fui à Associação de Estudantes pedir ajuda pois queria ser praxado. Lá indicaram-me com quem tinha de falar e finalmente fui praxado. Fiz tudo o que me pediram para fazer e nunca me agrediram, nem fisicamente nem verbalmente.
No meu tempo era assim: No 1º ano éramos praxados por sermos caloiros; Na 2ª matrícula éramos Doutor de Merda – neste ano já podíamos ver e já podíamos dar palpites, mas não podíamos praxar; na 3ª matrícula Merda de Doutor -, aqui já nós podíamos praxar e finalmente no 4º ano éramos Veteranos, a partir da 5ª matrícula já nos podíamos candidatar a Dux. Quantas mais matrículas mais hipóteses tínhamos de ser "aprovado" como Dux.
Uma vez que me tinha destacado como caloiro e como o meu curso não tinha ainda nenhum representante na COPA, fui convidado para membro dessa organização dessa elite para onde poucos tinham a honra de ser convidados. Uma vez que havia poucos alunos, foi me dada a função de fiscal das praxes, (cumprir e fazer cumprir o código das praxes), cargo que ocupei com muito orgulho. Nunca vi abusos nem faltas ao código das praxes. Tive dezenas de afilhados e afilhadas, de vários cursos, desde Geografia a Economia e de quem ainda hoje sou amigo.
Ultimamente é "moda" falarem mal da praxe! E isso mexe comigo, pois não há melhor experiência académica que ser praxado e praxar.
Fui Presidente da Associação de Estudantes do Núcleo de Geografia, vice-presidente da AL, membro do ENDA e do FAIRE, mas para mim ter sido membro da COPA bate todas essas, foram os melhores tempos da minha vida académica! A praxe foi um trampolim para a integração na Universidade, principalmente na Universidade Lusófona pois na altura só havia pouco mais de 15.000 estudantes e se não fossem as praxes não teria conhecido ninguém para além dos colegas do meu curso que nem 30 alunos eram.
O director do meu Curso era Croata e como estrangeiro não conhecia a nossa cultura, história e tradições e não gostava de praxes, nem de nos ver trajados, mas mesmo assim eu levei a minha avante. Lutei pelas praxes e pelo uso do traje académico e venci, nunca pensei que mais de 10 anos depois teria de continuar a defender uma tradição portuguesa com mais de 300 anos, tradição que nem o Salazar proíbiu.
As praxes só servem como meio de integração, não de humilhação nem para magoarmos ou matarmos alguém. Sempre que fazíamos uma praxe, dizíamos o que íamos fazer e perguntávamos aos caloiros se a queriam fazer. Aquele que não quisesse não fazia e nada de mal, lhe aconteceria. A culpa dos exageros não é das praxes, é das pessoas! E dessas há em todo o lado, é raro o jogo de futebol (principalmente entre os Grandes) onde não exista violência física e verbal. Já morreram adeptos de todos os clubes e não vi ninguém a querer acabar com os Jogos…
As praxes são muito menos “violentas”. Para mim só é contra quem não foi estudante ou quem nunca trajou. Se são ou estão frustrados por não terem entrado na universidade ou nunca terem sido convidados para nenhuma praxe, não a culpem!
Eu, praxante me confesso, hoje passados 10 anos. Voltava para lá a correr e ainda hoje fico triste quando passo por um grupo de trajados ou praxantes, por não estar no meio deles…
Outra coisinha, eu fiz tudo o que referi e nunca chumbei. Fiz a minha Licenciatura nos 4 anos dela. Essa que os “gajos” das praxes andam lá e não estudam, comigo também não pega! Dura praxis, Sed praxis!!!


In: revista Sábado 2013

Henrique Tigo
Ex-membro da COPA da Universidade Lusófona de 2003 a 2006

Entrevista sobre a Praxe Academica

A pedido de várias famílias, aqui vai a minha entrevista na RTP no programa Sexta as 9.
A minha participação começa aos 19m21s.
Reafirmo que sou a favor das praxes, nada do que fiz me envergonha, nem fiz nada para envergonhar aqueles que praxei.
Tenho muito orgulho em ter sido da COPA da Universidade Lusófona.
As melhores recordações que tenho desse meu passado, são das praxes.
Viva a tradição académica, viva as praxes...

http://www.rtp.pt/play/p1047/e141785/sexta-as-9-ii