Eu praxante me
confesso
Fui praxante e membro da COPA (Comissão
Organizadora da Praxe Académica) da Universidade Lusófona de 2003 a 2006 e
tenho muito orgulho nisso.
Talvez por a minha família materna
ser de Coimbra, concelho de Góis, o pai da minha madrinha ser o actor Alberto
Ribeiro, que fez o filme Capas Negras, o meu sonho toda a vida foi usar o traje
académico.
Quando finalmente entrei para a
Universidade a minha querida Avó, ofereceu-me o traje. Fui comprá-lo a Coimbra
numa loja com grande tradição. Lembro-me que foi em Agosto e estavam mais de 40
Graus, mas não importava eu tinha finalmente o meu traje!
Mas voltando às praxes, o meu curso
tinha acabado de abrir na Universidade Lusófona, logo não tinham ainda
Veteranos para me praxarem. Então fui à Associação de Estudantes pedir ajuda
pois queria ser praxado. Lá indicaram-me com quem tinha de falar e finalmente fui
praxado. Fiz tudo o que me pediram para fazer e nunca me agrediram, nem
fisicamente nem verbalmente.
No meu tempo era assim: No 1º ano éramos
praxados por sermos caloiros; Na 2ª matrícula éramos Doutor de Merda – neste
ano já podíamos ver e já podíamos dar palpites, mas não podíamos praxar; na 3ª
matrícula Merda de Doutor -, aqui já nós podíamos praxar e finalmente no 4º ano
éramos Veteranos, a partir da 5ª matrícula já nos podíamos candidatar a Dux. Quantas
mais matrículas mais hipóteses tínhamos de ser "aprovado" como Dux.
Uma vez que me tinha destacado como
caloiro e como o meu curso não tinha ainda nenhum representante na COPA, fui
convidado para membro dessa organização dessa elite para onde poucos tinham a
honra de ser convidados. Uma vez que havia poucos alunos, foi me dada a função
de fiscal das praxes, (cumprir e fazer cumprir o código das praxes), cargo que
ocupei com muito orgulho. Nunca vi abusos nem faltas ao código das praxes. Tive
dezenas de afilhados e afilhadas, de vários cursos, desde Geografia a Economia
e de quem ainda hoje sou amigo.
Ultimamente é "moda"
falarem mal da praxe! E isso mexe comigo, pois não há melhor experiência
académica que ser praxado e praxar.
Fui Presidente da Associação de
Estudantes do Núcleo de Geografia, vice-presidente da AL, membro do ENDA e do
FAIRE, mas para mim ter sido membro da COPA bate todas essas, foram os melhores
tempos da minha vida académica! A praxe foi um trampolim para a integração na
Universidade, principalmente na Universidade Lusófona pois na altura só havia
pouco mais de 15.000 estudantes e se não fossem as praxes não teria conhecido
ninguém para além dos colegas do meu curso que nem 30 alunos eram.
O director do meu Curso era Croata e
como estrangeiro não conhecia a nossa cultura, história e tradições e não
gostava de praxes, nem de nos ver trajados, mas mesmo assim eu levei a minha
avante. Lutei pelas praxes e pelo uso do traje académico e venci, nunca pensei que
mais de 10 anos depois teria de continuar a defender uma tradição portuguesa
com mais de 300 anos, tradição que nem o Salazar proíbiu.
As praxes só servem como meio de
integração, não de humilhação nem para magoarmos ou matarmos alguém. Sempre que
fazíamos uma praxe, dizíamos o que íamos fazer e perguntávamos aos caloiros se
a queriam fazer. Aquele que não quisesse não fazia e nada de mal, lhe
aconteceria. A culpa dos exageros não é das praxes, é das pessoas! E dessas há
em todo o lado, é raro o jogo de futebol (principalmente entre os Grandes) onde
não exista violência física e verbal. Já morreram adeptos de todos os clubes e
não vi ninguém a querer acabar com os Jogos…
As praxes são muito menos
“violentas”. Para mim só é contra quem não foi estudante ou quem nunca trajou. Se
são ou estão frustrados por não terem entrado na universidade ou nunca terem
sido convidados para nenhuma praxe, não a culpem!
Eu, praxante me confesso, hoje
passados 10 anos. Voltava para lá a correr e ainda hoje fico triste quando
passo por um grupo de trajados ou praxantes, por não estar no meio deles…
Outra coisinha, eu fiz tudo o que
referi e nunca chumbei. Fiz a minha Licenciatura nos 4 anos dela. Essa que os
“gajos” das praxes andam lá e não estudam, comigo também não pega! Dura praxis,
Sed praxis!!!
Henrique Tigo
Ex-membro da COPA da Universidade
Lusófona de 2003 a 2006