Um dia, era muito pequeno, estava na
Brasileira o Chiado e o meu Pai disse-me: Olha, aquele senhor que está ali, é o
Mestre Carlos Paredes!
Olhei e vi um homem magro com os
cabelos aos caracóis por pentear, óculos, um cachecol cinzento, e gabardina
creme. Estava ali sentado sozinho a beber um café, e o meu pai disse: Vamos lá
ter com ele. Vou apresentar-te.
Chegámos ao pé dele e o meu pai cumprimento-o:
- “Viva, Mestre! Este é o meu
filhote!...”. Ele levantou a cabeça e sorriu, dizendo:
-“ Oh! Mourato, não me chames Mestre
que sabes que eu não gosto… Olá, rapaz, como te chamas?”
- “Eu, Henrique como o meu pai!”
- “E também vais ser pintor?”
Eu encolhi os ombros, como quem diz
não sei. A conversa continuou durante uns minutos e, de repente, ele disse uma
coisa que nunca irei esquecer.
- “Sabes, Mourato, vou dar mais um
espectáculo, as pessoas parece que gostam de mim, não sei bem porquê, mas
gostam e eu lá vou fazendo mais uns espectáculos.”
Eu deviria ter 4/5 anos e estava
habituado a encontrar todo o tipo de vultos da cultura portuguesa, quer da
música, cinema, teatro e artes plásticas, mas nunca conheci ninguém com aquela
modéstia e simplicidade.
Um dia, já homem, comprei um CD do
Mestre Carlos Paredes. Claro que já tinha ouvido músicas dele e lido sobre ele,
mas aquele CD abriu-me os olhos: Durante duas ou três semanas só houve aquele
som, aquela guitarra. Aquelas mãos estavam a falar comigo, a pintar um quadro,
a fazer amor com os meus ouvidos.
E voltei a lembrar-me daquele homem
que tinha conhecido havia mais de 15 anos com aquela modéstia de não saber por
que as pessoas gostavam de o ouvir.
Obrigado, “Mestre” Carlos! por me
fazeres sonhar cada vez que ouço a tua guitarra!
Até breve e sabes uma coisa? “Nós
amamos-te”!