Andorinhas, que futuro?

Uma das grandes recordações que tenho das minhas férias de Verão, em Vila Nova do Ceira, são as Andorinhas. Sempre fui um rapaz da cidade, onde não existem Andorinhas e ficava encantado com elas.
Lembro-me que uma vez na Sandinha, em Setembro, havia tantas, tantas era um espectáculo lindo, pois têm entre 17 e 19 cm de comprimento e 32 a 34,5 cm de envergadura. À semelhança das outras aves desta família, possui bico curto e escuro, corpo esbelto e asas compridas. A cabeça, dorso, cauda e asas (com excepção das penas de voo que são pretas) são azuladas; as faces e garganta são avermelhadas e o peito e a barriga são brancos. Tem um voo leve e hábil, tipicamente com rápidas mudanças de direcção, seguindo os movimentos dos insectos que persegue. E ali estavam elas, todas alinhadas a espera do sinal para partirem.
Sendo aves migratórias, as Andorinhas simbolizam o regresso da Primavera e o início do Outono. Passam o Inverno em África e depois fazem a longa viagem de regresso à Europa, o que exige uma extraordinária capacidade de orientação, não sendo totalmente isenta de perigos, muitas morrem pelo caminho, quer por causas naturais quer abatidas desnecessariamente pelo homem.
As Andorinhas revelam uma excelente sensibilidade e de capacidade de memória pois voltam para ninho do qual partiram no Outono anterior. Mas muitas vezes quando regressam o Homem já destruiu os ninhos, por questões estéticas ou por simples maldade, esquecendo-se das questões ambientais, tendo em conta que elas se alimentam quase exclusivamente de insectos voadores, (moscas, mosquitos, melgas) na sua maioria dipteros, perseguindo-os com um voo extremamente hábil e eficaz. Capturam também, embora esporadicamente, insectos não voadores, principalmente em épocas do ano em que estes existem em grande abundância, se destruirmos os seus ninhos e as matarmos, teremos um Verão com muitos mais insectos.
Matar as andorinhas ou destruir-lhes os ninhos é uma atitude irresponsável que lesa o nosso património natural e o nosso bem-estar, além de ser crime (todas as andorinhas estão protegidas legalmente pela Conversão de Berna, ratificação pelo Governo Português através do Decreto-Lei n.º 95/81 de 23 de Julho e ainda por uma directiva do Conselho das Comunidades Europeias, que além de proteger as aves, protege os seus ninhos e ovos).
Se é verdade que estas aves, lindas e inteligentes, podem sujar as nossas casas e a nossa roupa, é igualmente verdade que as vantagens que nos trazem são superiores e a destruição dos ninhos das Andorinhas, só agravam a situação de declínio em que se encontra quase toda a nossa fauna selvagem.
Já basta que as alterações, nas práticas agrícolas, que levaram à intensificação da agricultura e à consequente perda do habitat, estarão certamente na base do registado declínio populacional desta espécie. A drenagem de áreas húmidas e o uso de herbicidas e pesticidas resultam na diminuição da disponibilidade de alimento e de áreas propícias à alimentação. As andorinhas são ainda extremamente susceptíveis às alterações do clima. O mau tempo é responsável por uma redução no número de insectos, afectando o sucesso reprodutor e, especialmente durante a migração, aumentando a mortalidade destas aves.
Por isso apelo, não destruam os ninhos, não matem as Andorinhas em Vila Nova do Ceira, para que os jovens, que vivem nas cidades, tenham hipóteses de contemplarem estas aves maravilhosas.