Bolo-Rei

Qual será a mesa Portuguesa, que não tem o Bolo-Rei nas suas mesas na altura das festas?
O Bolo-Rei mantém-se como o doce tradicional do Natal, sendo o bolo mais vendido na altura natalícia, mas curiosamente este bolo não teve a sua origem no nosso País, mas sim em França e apenas chegou a Portugal no século XIX tendo chegado primeiro em Lisboa e só depois no Porto, o Bolo-Rei foi trazido por dois pasteleiros franceses.
Não deixa de ser curioso que Portugal, tendo uma tradição doceira tão boa, variada e tão rica tenha adoptado um bolo Francês, como bolo oficial do nosso Natal.
Ninguém sabe bem porque motivo de chamou Bolo-Rei a este bolo, pois ele esta associado aos Reis Magos, contudo dos três Reis Belchior, Baltazar e Gaspar que foram a Belém para saudar o Deus-Menino, levar Incenso, Mirra e Ouro, e não um bolo, mas tudo bem, pode ser uma simples homenagem...
Na minha modesta opinião o Bolo-Rei não é assim grande coisa, poderíamos ter escolhido para bolo oficial do Natal, algo bem nacional tal como o pão-de-ló, bolo real, bolo príncipe, bem mas lá foi eleito o Bolo-Rei.
Em Portugal, foi comercializado pela primeira vez em 1869 na Confeitaria Nacional pelo senhor Baltazar Rodrigues Castanheiro Júnior que tinha herdade a Confeitaria do seu pai Baltazar Sénior, tendo sido o mestre confeiteiro Gregório Santos o primeiro pasteleiro português a fazer Bolo-Rei.
A moda do Bolo-Rei só chega ao Porto em 1890, na Confeiteira Cascais, sendo feito a partir de uma receita do proprietário Francisco Cascais, que tinha ido buscar pessoalmente a Paris, e só fazia estes bolos na véspera do Dia de Reis, mas devido a sua enorme procura a partir de 1920 a Confeiteira Cascais começou a produzir o Bolo-Rei diáriamente, pois a procura começou a aumentar.
Hoje em dia é normal ver as senhoras da alta sociedade de Lisboa, após a missa da tarde é normal vê-las num qualquer café de Lisboa a comer uma fatia de Bolo-Rei com o seu chá.
O Bolo-Rei levou umas pequenas alterações com a entrada de Portugal na Comunidade Europeia, primeiro foi proibido o “brinde” porque era feito em chumbo e supostamente fazia mal a saúde, tendo sido substituído por outro material que também foi retirado desta vez porque as crianças podiam engoli-lo sem querer. Mas a fava continua, assim como a tradição que quem achar a fava terá de pagar o bolo.
O Bolo-Rei faz parte da nossa história e imaginário, por exemplo que não se lembra da imagem do nosso actual Presidente da República Prof. Aníbal Cavaco Silva em campanha a comer Bolo-Rei de boca aberta enquanto falava...
Mas passado mais de 100 anos, tornou-se num bolo quotidiano e com uma grande capacidade de adaptação aos nossos tempos, apesar da concorrência da nossa bolaria que continua a ser uma das mais ricas do mundo.
Henrique Tigo
Geógrafo
Fonte: Afonso Praça e Maria de Lourdes Modesto, no I Volume do livro ”Festas e Comeres do Povo Português” da Editorial Verbo, Lisboa, 1999.